Velhos cadernos quadriculados
Os meus primeiros cadernos estão aqui
cheios de sangue e merda e lama
com poemas escritos à pressa no intervalo
de um combate ou de cócoras a cagar
no meio do mato. Poemas decorados
quando na cela não havia papel
e eram ditos em voz alta
só para ter a quem ouvir.
Poemas mais tarde escritos às escondidas
ou a passar fronteiras ou registados
enquanto caminhava pelas ruas
sem país esses casa estes tertúlias
nem compadrios literários
apenas a incomparável marginalidade extrema
e soes caderno quadriculado para apontar
o sangue a merda a lágrima o amor a perda
de que se faz cada poema.
Vecchi quaderni a quadretti
I miei primi quaderni sono qui
pieni di sangue e merda e fango
con poesie scritte in fretta nell’intervallo
di un combattimento o occupato a cagare
in un cespuglio. Poesie decorate
quando in cella non avevo carta
e erano pronunciate a voce alta
solo per avere chi le ascolta.
Poesie più tardi scritte furtivamente
o attraversando frontiere o riportate
mentre camminavo per le strade
senza paese senza casa né amicizie
o compagni letterati
solamente l’incomparabile marginalità estrema
e un quaderno a quadretti per annotare
il sangue la merda la lacrima l’amore la perdita
di cui è fatta ogni poesia.
[ da Bairro Ocidental, D.Quixote (2015). Prémio Vida Literária 2016 (Associação Portuguesa de Escritores); Prémio de Consagração de Carreira (Sociedade Portuguesa de Autores).
Traduzione di Roberto Maggiani. ]