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minhas pequenas dúvidas estabelecem
habitação violenta. furam pelos ossos,
espalham os dedos em volta, os caules
aquecidos de vento, roem
lentamente os pátios inertes,
instalam a dobra azul dos cotovelos,
resistem. Têm, ambígua, a elegância
elementar da água. Dobram
as espigas nos dentes,
conhecem o nervo
estendido no céu.
mexem
os dedos na gaveta, calcário
das costas, vigiam com cuidado
as vísceras dos galos, a variável
rotação dos planetas; enquanto a galáxia
gira em si mesma intensamente inútil.
minhas pequenas dúvidas multiplicam os dentes,
decoram marx, passeiam o silêncio
pela trela. resistem,
furam pelos dedos, as vísceras
intensas do vento, estabelecem
cotovelos completos.
têm
a violência constante dos ossos,
resistem, dobram lentamente
a trela das estrelas,
ferem as vísceras
inertes do silêncio, espalham
em volta a demasia oblíqua
das espigas nos pulsos. lêem
o jornal misturado à saliva, aprendem
sem ruído as máquinas da pele:
minhas pequenas dúvidas resistem
o calcário dos nervos,
estabelecem
habitação inútil,
dobram os ossos ao calor dos pátios.
*
miei piccoli dubbi, e la guerra
miei piccoli dubbi prendono
violenta dimora. forano le ossa,
sparpagliano le dita in giro, gli steli
riscaldati dal vento, consumano
lentamente cortili inerti,
insediano la piega azzurra dei gomiti,
resistono. Hanno l’ambigua eleganza
elementare dell’acqua. Ripiegano
le orecchie nei denti,
conoscono il nervo
steso nel cielo.
rimescolano
le dita nel cassetto, il calcare
delle coste, osservano con attenzione
le viscere dei galli, la rotazione
variabile dei pianeti; mentre la galassia
gira su sé stessa intensamente inutile.
miei piccoli dubbi moltiplicano i denti,
decorano marx, portano a passeggio
il silenzio al guinzaglio. resistono,
forano per mezzo delle dita, le viscere
forti del vento, prescrivono
inversioni complete.
hanno
la violenza incessante delle ossa,
resistono, spezzano lentamente
il guinzaglio delle stelle,
feriscono le viscere
inoperose del silenzio, spargono
l’eccesso obliquo
delle orecchie negli impulsi. leggono
il giornale mescolato a saliva, imparano
senza rumore i meccanismi della pelle:
miei piccoli dubbi resistono
al calcare dei nervi,
stabiliscono
inutile dimora,
rompono le ossa al calore dei cortili.
[ Prima parte del poema minhas pequenas dúvidas, e a guerra - miei piccoli dubbi, e la guerra di António Franco Alexandre, tratto dalla raccolta Poemas, Assírio & Alvim (1996).
Traduzione di Roberto Maggiani, pubblicata su Testo a Fronte n. 52, I semestre 2015 ]